Como gerimos Hotéis sem dados nem gestores qualificados?

 
 

“o que deve a Hotelaria mudar para que se torne mais atrativa na área de gestão de dados?”

As respostas dão que pensar, com vários aspetos que revelam a diversidade de perspectivas de uma nova geração que irá certamente contribuir para mudanças estruturais no curto-médio prazo.

 
 

Texto: José Pedro Almeida

CEO da XLR8

 

Mónica Neto, Zélia Freitas, Manuel Banza, Sara Evans e José Pedro Lopes, o que têm estes profissionais em comum? Para além do seu background em hotelaria, todos frequentaram uma Pós-Graduação em Business Intelligence e Analytics para Turismo, de uma das mais conceituadas universidades em Portugal. Nenhum destes profissionais continuava a desempenhar funções em hotelaria nos meses após a conclusão das suas Pós-Graduações, à exceção de Mónica Neto que se manteve interruptamente na área de Revenue Management em Hotelaria. A maioria dos restantes continua, ainda hoje, a exercer as suas profissões fora de hotelaria – no caso da Sara Evans e Zélia Freitas estão no sector, mas a colaborar em empresas tecnológicas, e o José Pedro Lopes regressou novamente, após uma experiência numa das principais Telcoms nacionais.

Estes profissionais não são casos isolados e devemos entender este padrão como um sinal de alerta para a Hotelaria, sobretudo nestes tempos onde vemos grandes Marcas e Fundos Internacionais a instalarem-se em Portugal, construindo novas unidades hoteleiras e/ou adquirindo ativos que até então eram propriedade maioritariamente portuguesa. São essas Marcas e Fundos que continuam, curiosamente, a procurar talento no nosso país, basta olharmos para os quadros de gestão locais, mas dando-lhes ferramentas e orientações assentes nos resultados, em que os indicadores de gestão (dados) e áreas como Revenue Management têm “outro peso”.

É por isso uma altura de reflexão para procurarmos saber o que move estas pessoas altamente qualificadas e porque razão procuram progressões de carreiras fora de hotelaria, sendo importante darmos-lhes voz e pedir feedback, aos nomes referidos no início do artigo, através da resposta à questão: “o que deve a Hotelaria mudar para que se torne mais atrativa na área de gestão de dados?”

As respostas dão que pensar, com vários aspetos que revelam a diversidade de perspetivas de uma nova geração que irá certamente contribuir para mudanças estruturais no curto-médio prazo. Mas há 3 dimensões que se destacam, tendo cada uma delas sido referida por, pelo menos, 3 dos 5 entrevistados, de forma alternada:


 

1) (Falta de) Valorização do talento:

As respostas denotam que estes profissionais olham para o negócio de uma perspetiva diferente, interpretando as dinâmicas das empresas através dos dados. Conforme referido por Mónica Neto “falta às empresas do setor valorizar os colaboradores com competências técnicas, que permitam o tratamento e a análise precisa e imparcial dos dados”. Talvez porque algumas destas funções de carácter predominantemente analítico são relativamente recentes, entende-se pelas palavras dos entrevistados que nem sempre os restantes stakeholders reconhecem o impacto destas funções na melhoria dos resultados das unidades hoteleiras – por mais que os números os evidenciem.

Mónica Neto

 

 

Manuel Banza

2)  “Achómetro”

Ao longo das respostas foi referida a necessidade urgente de mudança de mindset de gestão de topo, sobretudo na forma como as decisões são tomadas. Na opinião de Manuel Banza “para ser mais atrativa na área de gestão de dados, a hotelaria deve tomar decisões baseadas em dados, sem receio de assumir que as decisões atuais podem não estar sendo tomadas com base em informações precisas”. Para profissionais que aprendem princípios basilares de gestão, como a célebre frase associada a W. Edwards Deming e Peter Drucker “if you can’t measure, you can’t manage it”, é difícil entender como ainda hoje relegamos muitas vezes o poder dos dados para um segundo plano em prol dos hábitos (“eu acho que” ou “sempre fizemos assim”), de opiniões ou mesmo de dados isolados/insuficientes que não demonstram padrões consistentes.

 

 

3)  Retorno financeiro da tecnologia:

Citando Zélia Freitas, “a tecnologia não é um custo, mas sim um investimento”. Para se poder obter as métricas chave de gestão de negócio são necessárias ferramentas tecnológicas e nem sempre é claro qual o retorno que cada uma pode gerar. José Pedro Lopes reforçou este ponto, acrescentando “para que a Hotelaria se torne mais atrativa na área de gestão de dados tem de existir uma mudança de mindset no sector”. No entanto, mesmo com o desafio sobre o retorno direto, é possível hoje quantificar o impacto nos resultados – sejam eles financeiros ou de eficiência/redução de tempo – como no exemplo dos Revenue Management Systems, conforme referido pela Hotel Tech Report, divulgando que, em média, os hotéis que adotam este tipo de tecnologia aumentam a sua receita entre 7%-20% no primeiro ano.

 

Zélia Freitas

 

José Pedro Lopes


 

Sara Evans

 

Em jeito de conclusão, e tal como resumido por Sara Evans, “é fundamental que seja compreendido o retorno do investimento em tecnologia e RH qualificados”. Fica por isso a nota para podermos refletir sobre a forma como devemos gerir os nossos hotéis. Deveremos acompanhar aquilo que melhor se faz noutras indústrias, com a adoção evidente de tecnologia de ponta com base em inteligência artificial e business intelligence, ou continuaremos a correr o risco de perder o nosso talento para outras áreas e, consequentemente, competitividade perante as maiores cadeias internacionais que continuam a apostar neste tipo de perfil?

 

Top TipsMarketing XLR8